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Monthly Archives: Dezembro 2013


– Bem, a Dulcineia ia a passar debaixo da janela da cozinha e ouviu a mulher do feitor dizer ao neto mais pequeno que a Befana  só lhe ia trazer carvão se ele não escrevesse uma carta à velhota a contar-lhe as boas ações a a desculpar-se, bem entendido, das faltas de respeito dos caprichos e coisas dessas-

-Mas tens a certeza disso? Como sabes, a Dulcineia é um pouco exagerada…

-De que estás a falar? – interrompeu a vaca Cornélia.

-Estava a contar o que a Dulcineia disse, mas o Pilú não acredita.

Cornélia virou o seu focinhão malhado de branco e castanho para o cão e, com um movimento para baixo, acompanhado do típico ruminar da boca, confirmou que sim, que a Dulcineia era uma pata distraída, mas que, desta vez, tinha mesmo razão. Entraram juntos no grande estábulo, tépido e acolhedor. O feno estava empilhado, as ferramentas encostadas à parede e trator  arrumado ao fundo, por detrás da grande coluna com a escadita que levava até lá cima , ao patamar.

E ali estavam os animais reunidos e ocupadíssimos a cavaquear e escrever. A família Ratinho viera em peso com os pequenos Dó, Ré, Mi, Fá , Sol, Lá, que baloiçavam dentro das meias estendidas na corda da roupa, enquanto o mais pequenito, o Si, tivera de contentar-se com umas calcinhas de flores! O papá rato era um verdadeiro apaixonado por música e conhecera  a mulher num concerto de Verão: Os Cigarra Jazz  Band, em tournée, tinham feito um espetáculo na eira da quinta. Em honra daquele amor à primeira vista, tinham decidido dar aos filhos os nomes das notas de música e, por uma questão de coerência, estavam agora a utilizar folhas de papel de música com muitas linhas e claves. Mais simples era o papel da ovelha Nuvem,criatura delicada e um pouco sonhadora que fora pedir conselhos à Sissi (outra alma super romântica!) e escolhera um papel de carta branco com envelope lilás.

Cleofe, a cabra, discutia com Palmiro, o burro, se seria melhor iniciar a carta com « Caríssima Befana » ou « Gentil  Senhora Befana», enquanto o touro Nero se mostrava preocupado com a folha que não queria amachucar sob o peso das suas patorras. (cont)

Texto de: Bianca Belardinelli, Contos de Natal, Círculo de Leitores,2010


Enquanto Ettore lia as páginas da sua carta(ia  só na segunda de umas cinco folhas!), Pilú ficara à porta um pouco desconcertado. Naquele momento, chegou Vermiglia, a terceira galinha da quinta, com um embrulhinho debaixo da asa.

– O que levas aí , Vermiglia?

-Papel de carta e envelopes – respondeu ela. – Tive de ir buscá-los à cidade. as minhas irmãs estavam tão empenhadas no choco que me mandaram a mim.

– E para que são, posso saber? – perguntou Pilú.

– Para escrevermos à Befana ! -gritaram em coro Verdina e Viola.

O cão fixou os quatros.

– Mas as cartas têm de ser dirigidas ao Pai Natal , não à…

Não deu tempo para concluir a frase porque, entretanto, o cavalo enfiara o focinho pela janelita.

– Alguém tem uma caneta que me empreste?

– Eu, Jimmy, toma – respondeu Viola estendendo-lhe uma.

– Obrigado! Quando acabar … – disse o cavalo retirando a cabeça e diriindo-se à eira.

Pilú foi atrás dele.

– Ouve, Jimmy, sabes explicar-me o que é esta história  das cartinhas para a Befana?

– Como … – respondeu ele, gaguejando com a caneta presa entre os dentes. – Não sabes da notícia?

– Não, se… quer dizer, a Sissi ficou ofendida e não me disse nada. (cont.)

Texto de: Bianca Belardinelli, Contos de Natal, Círculo de Leitores,2010


– O que estás a fazer? –  perguntou  o Pilú à Sissi.

– Estou a escrever uma cartinha à Befana.

– Mas as cartas não são dirigidas à Befana… são para o Pai Natal! – respondeu Pilú abanando a cabeça.

-Oh, não, nem pensar! E depois, quem to disse? Cá por mim, penso que também deves enviá-las para ela, para lhe contares as boas ações que fizeste, e que te portaste bem durante o ano pois, assim, não irá trazer-te carvão, mas uma peúga gigante , cheia de surpresas! – respondeu Sissi segura de si, e até um pouco enfadada com as observações parvas de Pilú.- Vê-se mesmo que não estás atualizado! – e dizendo isto, a cadelita pôs-se a escrever no seu belíssimo papel cor -de  – rosa.

Pilú foi-se embora.

« Atualizado? Mas atualizado sobre quê?», perguntava-se a si próprio.

E decidiu ir ter com o galo que, quando havia alguma novidade, era sempre o primeiro a ser informado.

Assim que entrou no galinheiro, o cão encontrou Viola e Verdina no seu ninho de palha, atentas às palavras de Ettore, o galo propriamente dito que , de pé em cima da trave, lia em voz alta:

– … depois, no mês de outubro, chamei a atenção do feitor mesmo a tempo de evitar uma invasão do galinheiro pela fuinha – e aqui fez uma pausa procurando consenso das suas companheiras galinhas  que, só de se lembrarem daquela noitada tão agitada, se haviam posto de penas todas em pé. – A dezasseis de fevereiro, cantei antes do tempo porque, de outra forma, a patroa teria perdido o autocarro, para ir à cidade …. ( cont.)

Texto de: Bianca Belardinelli, Contos de Natal, Círculo de Leitores,2010