“Era uma vez um rapaz chamado Pedro e uma rapariga chamada Inês,que nasceram um para o outro e se encontraram uma só vez.
Foi numa tarde de chuva, num centro comercial. Acenaram um para o outro quase sem querer, como se já se conhecessem muito bem. E conheciam. Ele conhecia-a dos seus sonhos, ela também.
Reconheceram-se entre tanta gente, só que iam em escadas rolantes que seguiam em sentido contrário. E foram em frente. Cada um rolou para o seu lado, pois então, ele saiu no primeiro andar e ela saiu no rês do chão.
Voltaram ambos atrás para se voltarem a ver, mas ele tropeçou nos atacadores dos sapatos e, naquele momento, desviou o olhar. E ela ? Ia atenta, mas entrou-lhe um mosquito para o olho quando ele ia a passar.
Não se riam que esta história é triste, é a história que ficou por fazer e por contar, não se chegou a cumprir. É para chorar não é para rir.
Ora bem , Pedro e Inês eram quase da mesma idade e moravam na mesma rua da mesma cidade. Ele era um rapaz alegre e desenvolto, muito dado, mas um bocadinho aluado. Ela era bonita, tinha uma longa cabeleira negra, aos caracóis e dois olhos verdes muito vivos, de pardal. Mas era um bocado surda e também via mal.
Pedro e Inês eram feitos um para o outro, isso é verdade, mas a vida não estava feita para eles, ou não lhes fazia a vontade. Queria lá saber! E quando é assim, não há nada a fazer.
Certa vez. em Paris, foi por um triz que ela não passou diante do seu nariz. De outra vez, no Rio de Janeiro, chocaram de frente no meio do nevoeiro ( e logo lá, que nunca há nevoeiro; tenho a impressão de que aquele foi o primeiro). Nessa altura, cheirou-lhes a qualquer coisa de importante e familiar. E o nevoeiro estava a levantar. Mas ela estava sem óculos e ele estava sem tempo, cheio de pressa
– Desculpe – disse ele….” (cont)
Texto de : Álvaro de Magalhães